domingo, 5 de abril de 2020

"" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 25





Vigésimo quinto dia !

25 dias já é muita coisa ! Hoje, mais um domingo nesta marcha do tempo em que estamos meio perdidos, no meio dele.  "Não parece domingo", dizia-me uma amiga nas primeiras mensagens da manhã.  Dias iguais, rotinas iguais, sabemos que é dia ou noite porque o sol acorda ou se deita ...
O resto, é uma espera monotonamente semelhante, com uma esperança dependurada de corações ansiosos, angustiados e expectantes ...

Os dados estatísticos para o dia de hoje, revelam um rasgo ténue de esperança e confiança, com a curva matemática a demonstrar uma promissora estabilização e um decréscimo mesmo percentual, comparativamente às últimas vinte e quatro horas.  Ainda assim, contabilizamos neste momento, já 295 óbitos e cerca de 11300 infectados ...
Tal como o dia de hoje, um verdadeiro dia de Inverno com chuva forte e ininterrupta, com uma cerração instalada que de quando em vez se iluminava com a persistência de um sol manhoso encolhido logo a seguir, tímido e sem força ... assim estão as nossas vidas. animicamente fraquinhas, fraquinhas e pouco convictas quanto ao que esperar ...
Cada dia é uma batalha ganha.  Cada dia é uma luta que recomeça e que tem que se enfrentar, com coragem e força.

Lembrei hoje, a propósito de tudo isto, as narrações ouvidas à minha mãe sobre um pesadelo vivido, era ela muito pequena.  Ou melhor, ela, nascida em 21 já só apanhou o rescaldo do surto epidemiológico ocorrido entre Janeiro de 1918 e Dezembro de 1920 - a Pandemia conhecida como a Pneumónica ou Gripe Espanhola.
Avalio hoje, com alguma clareza, a gravidade do que ocorreu então, pois não a tendo objectivamente atravessado, narrava episódios da época, na vila onde vivia, de uma forma tão vívida e sofrida, como se os tivesse presenciado.
Dizia ela : "Houve famílias inteiras que morreram.  Havia 2 e 3 funerais a saírem da mesma casa e ao mesmo tempo. Pais que não souberam da morte dos filhos e filhos que não souberam que os pais, no quarto ao lado, haviam partido ..."

De facto, a Gripe Espanhola, que infectou 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial da época, matou de 17 a 50 ou 100 milhões dos infectados, ( a informação não era precisa nem exaustiva ... não esqueçamos ), no que foi uma das mais letais na história da humanidade.
Foi a primeira pandemia causada pelo vírus influenza H1N1, de que uma segunda pandemia ocorreu no recente ano de 2009 ... todos nós lembramos.
Curiosamente, as poucas máscaras que detenho, foram então adquiridas ...

Tendo sido escamoteados dados estatísticos relativamente a países como a Alemanha, Reino Unido, França, Estados Unidos ou China, para que o alarmismo não grassasse, eram livres os artigos informativos sobre os efeitos conhecidos em Espanha.  Daí que este surto epidemiológico ficasse conhecido para a História, como Gripe Espanhola, não se conhecendo contudo, com segurança, a sua origem geográfica.
Na altura, a desnutrição, a falta de higiene, os acampamentos médicos e os hospitais superlotados, terão promovido uma super-infecção bacteriana responsável pela alta mortalidade.
Não podemos esquecer que estávamos no fim da 1ª Grande Guerra, e a movimentação de tropas, bem como a desnutrição e o stress dos combates, enfraquecendo os seus sistemas imunológicos estarão na origem dos valores de letalidade.
Comparativamente, morreram em 24 semanas mais pessoas, do que os vírus HIV e a síndrome da imunodeficiência adquirida ( AIDS ), mataram em 24 anos !!!

Contrariamente ao que parece ocorrer com o Corona Vírus, essa pandemia matou principalmente adultos jovens.  99% das mortes por influenza pandémica nos Estados Unidos, ocorreram em pessoas com idade inferior a 65 anos, e quase metade dos óbitos ocorreram entre os 20 e os 40 anos ...

A Pneumónica desdobrou-se em três ondas de progressão :
A primeira, considerada a mais branda, foi detectada em Março de 1918 nos Estados Unidos, num campo de treino de tropas destinadas à 1ª Grande Guerra.
Depois de percorrer os continentes, digamos que depois de dar a volta ao mundo, voltou aos Estados Unidos em Agosto, onde sucumbiram 195000 pessoas e matou monstruosamente  milhões,  pelo mundo fora.
A terceira onda pandémica foi mais moderada, e ocorreu entre Fevereiro e Maio de 1919.

Enfim, este é um breve apanhado sobre a calamidade ( mais uma ), que flagelou o planeta Terra.
De quem a viveu, já não existe ninguém para contar ...
E com as condições de salubridade existentes na altura, com todas as limitações de conhecimentos a nível da Medicina, Farmácia, Biologia, Química, e outros ... com todos os recursos de que hoje dispomos nos campos da investigação, da tecnologia, da informação, da ciência de uma maneira geral, dos recursos e apoios sócio-políticos que envolvem todos os países, e inexistentes então ... podemos palidamente imaginar, apenas, como terá sido vivido e ultrapassado esse flagelo.

Sobre o que vivemos hoje, apesar de tudo, podemos considerar-nos cidadãos bafejados com muita sorte ... sem dúvida alguma !...
Amanhã será outro dia.  Coragem e força, são precisas !!!

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !



Anamar

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