sexta-feira, 24 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 44





Não sei o que vos diga, hoje ...
Os dias genericamente repetem-se, as vivências são próximas, tudo é muito fastidioso e insípido !
Hoje foi dia de caminhar.  Mais animada apesar de tudo, já que, mercê da extracção do famigerado dente que me atormentava o espírito - no que foi um alívio de alma incomensurável -  o analgésico que tenho tomado em paliativo, foi por assim dizer, um "dois em um" ... e o incómodo da ciática, passou também !
Portanto digamos, estou novinha em folha !...

Os dias de Primavera instalada, começam a ensolarar.  Corre um vento excessivo, agora de tarde. De manhã tudo estava mais sereno e mais bonito !

Com esta acalmia promissora do tempo, sente-se claramente um espírito mais solto e leve, nas pessoas. 
Com o levantamento do Estado de Emergência no próximo 2 de Maio, que já espreita à porta, com a saturação do isolamento que nos tem remetido a esta vida de eremitas ... e com os números felizmente generosos na nossa terra, das estatísticas da Covid-19 ... acho que um qualquer "frisson" já toma conta dos espíritos.
E à semelhança de algum confinamento, que em Março antecedeu mesmo, as determinações do governo, receio seriamente que também o desconfinamento agora, entre em velocidade de cruzeiro, antes do prudente.
Noto claramente mais movimentação nas ruas e mais trânsito nas vias públicas.  Noto as pessoas aparentemente menos policiadas, menos contidas, notoriamente menos assustadas, creio.
E aí, pode residir o busílis da questão !
Nós somos muito de gritar por Santa Bárbara ao trovejar ... e também de "enquanto o pau vai e vem, folgarem as costas" ...  Só espero, para bem de todos nós, que não venhamos a apanhar um valente "cagaço" um destes dias, ao consultarmos números de que as pessoas parecem ter-se indiferentizado, nos últimos dias ...
Eu sei que também é um processo de defesa pessoal.  Uma maneira de não deixarmos que a angústia, a tristeza e a aflição que sentimos impotentemente ao constatar as estatísticas avassaladoras internacionais, nos dominem e nos destruam ainda mais.
Contudo, não convém fazer muita fé em "milagres" e em chaves premiadas de totolotos do destino !...

Amanhã comemora-se mais uma efeméride da História de Portugal, o quadragésimo sexto aniversário da nossa Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974.
Num período complicado das nossas existências, em plena pandemia da Covid-19, pouco mais se pode fazer que lembrar, já que os habituais festejos, iniciativas sociais e políticas, manifestações de rua e outras, não são viáveis, dadas as medidas restritivas do distanciamento social exigido.
Assim, haverá uma cerimónia restrita, na Assembleia da República, e através das televisões ou da Internet, assistiremos, no recôndito das nossas casas, aos eventos que a propósito sejam emitidos.
Às 15 horas, todos iremos às janelas, para, em comunhão e uníssono, cantarmos a canção que nem os tempos nem as eras, apagarão nas nossas vidas : "Grândola, vila morena" do eterno Zeca !!!

O 25 de Abril  ganhou-se nas ruas, ganhou-se na esperança e na fé de uma liberdade sonhada e finalmente alcançada por um povo sofrido, que soube dizer "basta" !
Essa madrugada mágica ensinou-nos palavras de coragem, de força e de resistência ... coisas de gente forjada na desgraça, no silêncio e no obscurantismo de gerações amordaçadas, sem direito ao sonho em futuros dignos !
Ensinou-nos as palavras solidariedade, fraternidade e esperança ...

Outra madrugada é esta !  Outra luta é agora ...
Ganha-se em casa, com a esperança, a fé e o sonho sonhado, de podermos dar os braços outra vez, de podermos dar as mãos, erguer os cravos do nosso crer ... e irmos para as ruas cantar ... numa qualquer alvorada que há-de vir !
Ganha-se nos hospitais, onde os corações se entregam, nos lares onde os sorrisos amparam, nas escolas que hão-de abrir, quando já não houver grades erguidas ...
Ganha-se nas famílias que se reinventam, nos afectos que voejam além do espaço e nos velam à cabeceira ... ganha-se na certeza que nunca o longe se fez tão perto ... só porque assim o queremos !...

É Abril outra vez !...
Em Abril, aqui e agora, vamos ganhar hoje o cravo da nossa vitória sobre a dor, o desespero e a MORTE !...

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

Sem comentários: