quarta-feira, 22 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 42






Quadragésimo segundo dia !

Destes heróis eu ainda não tinha falado.
Também estão sem estarem, de alguma forma, na linha da frente, já que a educação, lado a lado com a saúde fazem um povo ...

As escolas foram fechadas, como sabemos, em início / meio de Março.
Antes mesmo de o Governo as ter encerrado, havia já estabelecimentos de ensino que, por moto próprio o haviam feito, mercê do aparecimento de infecções aí localizadas.
Local privilegiado para uma disseminação mais generalizada e rápida do vírus, o encerramento das escolas paralelamente ao fecho das fronteiras, assumiu o protagonismo na vanguarda das medidas restritivas, pois o distanciamento social, a fim de suster a onda de contágio, seria absolutamente impossível de respeitar em espaço escolar.

Assim, foi enviada  para casa toda uma população de crianças e jovens ... e dos adultos por elas responsáveis, ou seja, dos respectivos professores e ainda dos pais dos menores de doze anos.
Com os estabelecimentos encerrados, sejam do primeiro ciclo, sejam do pré-primário, sejam das creches e infantários, do secundário e também do superior, milhares e milhares de crianças e de adolescentes, recolheram ao domicílio.
Os mais pequenos, obviamente requeriam a presença de um dos progenitores, para seu acompanhamento.
Tudo isto originou uma verdadeira revolução nas vidas.  Nas vidas dos alunos e na vida das famílias onde se inserem.
Acresceu ainda, a complicação desencadeada em lares onde, além dos alunos, também os pais haviam recolhido por encerramento dos espaços físicos onde laboravam, sendo encaminhados para tele-trabalho, ou seja, sendo canalizados para os domicílios, desenvolvendo daí, por vídeo-conferências, ou simplesmente por via informática, as suas actividades profissionais.

Como não seria consentâneo que a vida parasse tão drasticamente, num ano lectivo surpreendido a meio, pela pandemia, houve que ser reformulada toda a vida escolar, reinventando-se uma nova forma de aprendizagem, apesar das limitações.
Assim, todo o corpo docente foi mobilizado e encaminhado para uma metodologia inovadora e experimental, de ensino à distância, como disse, por vídeo-conferência ou ainda por recuperação da velhinha tele-escola, de que certamente guardamos memória.
Foi tudo rapidamente delineado, levado absolutamente tão a sério e com a mesma responsabilidade do ensino tradicional ... e aí temos nós, as turmas a trabalharem, a respeitarem o horário escolar, a serem sujeitas a trabalhos e avaliações, com igual seriedade ... tudo a partir de casa !

E aí temos nós, novamente, "outros heróis" a emergirem ...
Refiro-me evidentemente aos encarregados de educação, que uma vez mais tiveram que dizer "presente", a uma experiência tacteante, de progressão no escuro, sem preparação prévia, ou sequer treino, para poder ser levada a bom porto ...
Pais que reúnem em casa, simultaneamente,  desde crianças que frequentavam creches, até jovens universitários, passando por outros graus de ensino.
Em espaços físicos muitas vezes precários nas dimensões, exigindo toda uma logística para a qual não estavam vocacionados.  E exigindo igualmente, a reunião adequada de condições materiais de trabalho, e outras ... o que nem sempre é exequível no núcleo familiar ...
Pais que detêm ou não, preparação própria, capacidade pessoal e condições de resposta, a estas situações-limite.

E conseguir pôr toda esta "máquina" a funcionar, com disciplina, dedicação, aplicação e trabalho ... com jovens e crianças carregadas de energia não dissipada, sem actividades extra-curriculares que habitualmente compunham os seus dias ... sem os tempos de lazer e convívio com colegas e amigos ... confinados que estão há tempo infinito em quarentenas ... é um trabalho titânico, é um trabalho de superação ao mais alto nível ... é coisa de heróis !...

Depois ainda, e homenageando a classe profissional a que pertenci ... não posso deixar de referir, honrar e prestigiar esses profissionais que a sociedade em tempo normal  tantas vezes desconsidera, não reconhece e injustiça ... os professores !
Os profissionais do ensino que dedicaram as suas vidas como um sacerdócio, por escolha, por devoção, por sonho ... se calhar por utopia ... a uma causa superior e nobre ... cujas vidas pessoal e familiar sempre são preteridas em função da profissão, foram agora chamados a um desígnio ainda maior, um esforço e uma abnegação ainda mais latos, um desempenho e uma responsabilidade ainda mais gigantesca : a sua entrega, sem baixar os braços, sem enfado ou capitulação, num projecto de dimensão nacional : a reescrita da História da Educação neste país, em tempos da Covid-19 !
Estão por isso de parabéns !!!

Para com eles, Portugal jamais poderá esquecer a palavra GRATIDÃO !...

E por hoje, a minha história termina.

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !




Anamar

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